Congresso | Conclusões Mesa 11
11ª Mesa de debate – O tempo futuro (Artigos “Os Anjos da guarda” – jan. 1859; “Da firmeza nos trabalhos espíritas” – Channing – nov. 1860; “O Futuro” – S. Luís – ago. 1860) – Jussara Korngold (USSF/CEI) – EUA, Marcial Barros (No Invisível/ FEP/CEI) e Vitor Féria (FEP/CELE)
Na mensagem que, interessantemente, é assinada por dois Espíritos com maior presença em toda a obra básica, o Espírito São Luís e Santo Agostinho, “Os Anjos da guarda“, é abordada a ação desses Espíritos abnegados (Anjos da guarda ou Espíritos Mentores), que pela Bondade divina se propõem a auxiliar cada um dos Espíritos reencarnados, protegendo cada indivíduo desde o seu nascimento até à sua morte.
Os bons Espíritos incitam-nos a desenvolvermos todos os esforços para nos harmonizarmos com eles, de modo a lhes sentirmos a influência, ouvirmos os seus conselhos para aplicá-los nas nossas vidas e nos adiantarmos na nossa caminhada evolutiva desde o presente, pela ação de auxílio ao nosso próximo: “Não receeis fatigar-nos com as vossas perguntas. Ao contrário, procurai estar sempre em relação connosco. Sereis assim mais fortes e mais felizes. São essas comunicações de cada um com o seu Espírito familiar que fazem sejam médiuns todos os homens, médiuns ignorados hoje, mas que se manifestarão mais tarde e se espalharão qual oceano sem margens, levando de roldão a incredulidade e a ignorância.”
No artigo “Da Firmeza nos trabalhos espíritas” o Espírito Channing relembra-nos da perseverança necessária para enfrentar e superar todas as adversidades, mantendo-se fieis aos elevados propósitos e objetivos a que a Doutrina Espírita se propõe.
Essa firmeza, importante não apenas para os indivíduos, mas também para as Instituições Espíritas, não deve ser confundida com a inflexibilidade ou a teimosia. Deve, ao invés, ser entendida como atitude equilibrada, que concilia o diálogo com a força e a determinação, necessárias à manutenção da unidade, e a coerência, que a fidelidade aos princípios revelados pela espiritualidade superior a Allan Kardec nos exige.
Deixa-nos a certeza da felicidade que a concretização dos objetivos nos traz, incitando-nos a nada temer quando afirma “(…) será uma prova que vos fortificará, se souberdes ofertá-la a Deus: mais tarde vereis vossos esforços coroados de sucesso. Será um grande triunfo para vós à luz da eternidade, sem esquecer que, neste mundo, já é uma consolação, uma felicidade, para as pessoas que perderam parentes e amigos, saber que são felizes, que é possível comunicar-se com eles.”
Por fim, no artigo assinado novamente pelo Espírito que numa das últimas reencarnações foi o Rei Luís IX de França, sob o título “O Futuro”, é-nos definido como objetivo a implementação da Era do Pensamento na sociedade, facilitada pela implantação da Doutrina Espírita que, como o próprio Espírito a denomina, é “ciência de toda a luz”.
O Espírito S. Luís indica-nos que nesse momento sentiremos a felicidade “porque nesse tempo a luz vos fará ver a verdade sob um clarão mais agradável”, e, não obstante o Homem ainda não ter alcançado a perfeição, todos serão mais felizes, porque o egoísmo, que é um sentimento que asfixia todo o sentimento fraterno, não mais será o que move a maioria das relações sociais.
No entanto, mais uma vez, os Espíritos superiores nos afirmam que o futuro é resultado das nossas ações e escolhas no presente, e não algo predeterminado ou imutável, podendo ser modificado a partir das nossas ações, pensamentos e atitudes, numa postura ativa de transformação interior “Ide, espíritas! Perseverai; fazei o bem pelo bem; desprezai suavemente os gracejadores; lembrai-vos de que tudo é harmonia em a Natureza, que a harmonia está nos mundos superiores e que, malgrado certos Espíritos fortes, tereis também a vossa harmonia relativa.”
Em resumo, os três artigos, analisados de forma integrada, apresentam uma perspetiva unificada sobre a melhoria da moralidade da sociedade como um todo, destacando a importância de ações individuais e coletivas no presente, aliadas à benéfica orientação/sugestão que os nossos “Espíritos Mentores” produzem, no sentido da perseverança na causa espírita, de forma a alcançar esse objetivo.
Essa perspetiva enfatiza a responsabilidade de cada um em contribuir para um mundo mais justo, equilibrado e fraterno, seja por meio de ações concretas ou por meio da força da fé e da espiritualidade de grau superior.
No sentido de nos fortalecermos nessa tarefa que cabe a todos realizar – a tarefa da disseminação da Doutrina Espírita, relembremos Allan Kardec, quando ele próprio coloca no primeiro artigo da mesma Revista Espírita de Janeiro de 1859, uma carta aberta às questões propostas por Sua Alteza o Príncipe Gaston d’Orléans, Conde d’Eu, neto do rei Luís Filipe I de França e marido de Isabel de Bragança, Princesa Imperial do Brasil, respondendo à questão de qual poderia ser a utilidade da propagação das ideias espíritas:
“Sendo o Espiritismo a prova palpável e evidente da existência, da individualidade e da imortalidade da alma, (…) as penas e recompensas futuras não são mais uma teoria, mas um facto patente aos nossos olhos. Ora, como não há religião possível sem a crença em Deus, na existência da alma e nas penas e recompensas futuras, o Espiritismo traz de volta essas crenças às pessoas nas quais elas estavam apagadas; resulta daí que ele é o mais poderoso auxiliar das ideias religiosas: dá religião aos que não a possuem, fortifica-a naqueles em que é vacilante, consola pela certeza do futuro, faz suportar com paciência e resignação as tribulações da vida e desvia do pensamento o suicídio, ideia que naturalmente repelimos quando vemos as consequências; eis por que são felizes os que penetraram em seus mistérios. Para eles o Espiritismo é a luz que dissipa as trevas e as angústias da dúvida. Se considerarmos agora a moral ensinada pelos Espíritos superiores, concluiremos que ela é toda evangélica; prega a caridade evangélica em toda a sua sublimidade e faz mais: mostra a sua necessidade tanto para a felicidade presente quanto para a futura, porque as consequências do bem e do mal que fazemos estão diante dos nossos olhos. Reconduzindo os homens aos sentimentos de seus deveres recíprocos, o Espiritismo neutraliza o efeito das doutrinas que subvertem a ordem social.”
Ao analisarmos estes, entre todos os outros artigos que foram debatidos durante o Congresso Espírita Internacional, e sendo eles apenas uma ínfima parte do conjunto do material que foi disponibilizado e compilado por Allan Kardec, ao longo dos onze anos e quatro meses da publicação periódica da Revue Spirite, sob a sua responsabilidade, ficamos com uma pequena noção da grandiosidade da tarefa e do enorme capital de informação e entendimento da Doutrina Espírita, que o seu estudo favorece.
É por isso uma das obras fundamentais para o estudante da Doutrina Espírita, aliás como o próprio Allan Kardec nos indica no Cap. III de O Livro dos Médiuns.