Congresso | Conclusões Mesa 3
3ª Mesa de debate – Obsessões e subjugações (Artigos “Obsedados e subjugados”- out. 1858; “Causas da obsessão e meios de a combater” – jan. 1863) – Alexandra Gomes (AE São Brás de Alportel), Cristina Mota (CEPC – Lisboa), Paulo Costeira Silva (ASCEV – Viseu).
Esta reflexão incidiu sobre dois artigos da Revista Espírita – Jornal de Estudos Psicológicos: 1) “Obsidiados e Subjugados”, de outubro de 1858, n.º10; e 2) “Estudo sobre os Possessos de Morzine”, retirado da edição de janeiro de 1863, n.º1.
O primeiro artigo referido explora a temática das obsessões, enunciando os princípios do processo obsessivo, que se inicia pela influência espiritual e se pode estabelecer em diferentes graus de gravidade. Estabelece ainda o paralelismo com a mediunidade e a obsessão. Por fim, oferece um conjunto de considerações sobre a vivência da mediunidade e sobre a cura da obsessão.
O segundo artigo explana de forma mais clara a influência espiritual e o seu processo. Preocupa-se, igualmente, em discernir a relação entre mediunidade e influenciação de que somos alvo.
O primeiro aspeto a considerar é que estamos incessantemente cercados por uma multidão de Espíritos e, dada a nossa natureza moral, na Terra os Espíritos inferiores são em maior número que os superiores. Há Espíritos que se vinculam a nós, cujo impulso seguimos sem o saber, sendo que os Espíritos inferiores apenas se ligam aos que os ouvem, aos que têm acesso e aos quais se prendem. O mundo espiritual e o mundo físico interligam-se, logo estamos ligados uns aos outros pelo pensamento e pelas nossas atitudes e, estando nós num planeta ainda inferior onde o mal predomina, composto por Espíritos imperfeitos, há uma predominância da matéria sobre o espírito e propensão ao mal, que se reflete na ignorância, no orgulho, no egoísmo e em todas as más paixões. Assim, os Espíritos inferiores encontram grau de afinidade para estabelecer o seu constrangimento em diferentes graus e efeitos, que marcam a diferença naquilo que designamos de obsessão.
Nestes dois artigos Kardec elucida-nos sobre as causas, os tipos de obsessões e como estas podem ser tratadas.
Pode-se definir a obsessão como a ação persistente de um Espírito inferior sobre outro, com o intuito de o dominar. A obsessão apenas se dá pela ação dos Espíritos inferiores. Estes ligam-se somente àqueles que os ouvem, junto aos quais têm acesso e aos quais se prendem.
Kardec categorizou três níveis de obsessão:
– A obsessão simples – influência moral causando mal-estar generalizado;
– A fascinação – espécie de ilusão, produzida pela ação direta de outro Espírito ou pelos seus raciocínios ardilosos, que alteram o senso moral da vítima e falseiam o seu julgamento, fazendo com que aceite o mal pelo bem;
– A subjugação – “opressão moral que paralisa a vontade daquele que a sofre, impelindo-o às mais despropositadas ações e, frequentemente, àquelas que mais contrariam os seus interesses”. A possessão seria um sinónimo de subjugação. Kardec não adotou este termo “porque implica a crença em seres criados e votados perpetuamente ao mal” e “pressupõe igualmente a ideia de tomada de posse do corpo por um Espírito estranho, uma espécie de coabitação, quando só há constrangimento”.
A intensidade e duração dessa ação dos Espíritos inferiores dependem do grau de malignidade e perversidade do Espírito mas, também, do estado moral da pessoa que lhes permite o acesso com maior ou menor facilidade. Muitas vezes a ação dos Espíritos inferiores é temporária e acidental, mais maliciosa e desagradável que perigosa, mas, em alguns casos, poderá provocar consequências desagradáveis para a saúde dos obsidiados, para as suas faculdades intelectuais, no caso da subjugação, conduzindo o individuo à loucura obsessiva, cujas causas e efeitos são muito diferentes da loucura patológica.
O tratamento e a cura da obsessão está, na maioria dos casos, dependente da vontade do obsidiado, pois em virtude do seu livre-arbítrio, pode escolher entre o bem e o mal e assim livrar-se do jugo dos Espíritos imperfeitos.
É a nossa própria inferioridade que faz com que os Espíritos imperfeitos permaneçam junto de nós. Somente quando nos tornarmos melhores é que as coisas mudarão, como já ocorreu nos mundos mais adiantados. Todo o homem de boa vontade, e que é simpático aos Espíritos bons, com o auxílio destes poderá sempre neutralizar a influência dos inferiores.
Nos casos de fascinação (perturbação da razão) e de subjugação (paralisação da vontade) é necessária a vontade de uma outra pessoa para poder substituir a do obsidiado, é precisa uma força moral capaz de vencer a resistência. E essa força pode ser conseguida pela união de pensamentos. Kardec propõe “que cinco ou seis espíritas sinceros se reúnam todos os dias, durante alguns instantes e peçam com fervor a Deus e aos Espíritos bons que assistam o obsidiado”; A prece fervorosa levará ao paciente um socorro espiritual e exercerá, ao mesmo tempo, uma ação magnética mental.
Em síntese, convém, pois, protegermo-nos contra a influência dos Espíritos inferiores, através do estudo prévio, que indica a rota e as precauções a tomar e, depois, pela prece. Como referiu Jesus, “Vigiai e Orai”.
Por último, a mediunidade é uma faculdade útil para o tratamento da obsessão, porque permite reconhecer os obsessores, dialogar com eles, no sentido de auxilia-los e, por meios racionais, esclarecê-los.
A mediunidade é uma faculdade que radica no organismo físico e que determina a nossa capacidade de sentir, perceber e comunicar com os Espíritos, num processo que é realizado perispírito a perispírito, ou de forma mais simples, mente a mente.
Nesta definição, compreendemos que todos temos potencial mediúnico que podemos desenvolver, mais ou menos lentamente. Neste campo, os médiuns cuja faculdade seja mais ostensiva ou que se desenvolva mais rapidamente, poderão ter, aparentemente, um risco maior de obsessão.
No artigo n.10 da Revista Espírita de 1858, é-nos destacado um dos aspetos mais positivos da mediunidade: a possibilidade de comunicarmos ou recebermos mensagens diretamente dos Espíritos dá grandes alegrias ao permitir conversar com os que já partiram ao além-túmulo e pela possibilidade de interrogá-los, acabando-se os mistérios. No segundo artigo em estudo lemos “O médium – que nos permitam a comparação – é o instrumento de laboratório pelo qual a ação do mundo invisível se traduz de maneira patente.”
Contudo, o artigo alerta para o impacto do entusiasmarmos com esta tarefa, especialmente quando o médium acredita que com ele se comunicam Espíritos superiores, sem que de facto o sejam. Isto pode impactar o seu ego, abrindo campo à fascinação.
Refere ainda que “da crença cega e irrefletida na superioridade dos Espíritos que se comunicam, à confiança nas suas palavras, não há senão um passo (…) sendo que o perigo está nos conselhos perniciosos que dão, aparentemente benévolos e nos passos funestos a que somos induzidos”. No artigo “Estudos sobre o Possessos de Morzine”, é-nos referido que o “exercício da mediunidade pode provocar num indivíduo a invasão de Espíritos maus e suas consequências? Dizemo-lo ainda: sim, sem experiência a mediunidade tem inconvenientes, dos quais o menor seria ser mistificado pelos Espíritos enganadores e levianos. Fazer Espiritismo experimental sem estudo é querer fazer manipulações químicas sem saber Química.”
Sem estudo e sem preocupações morais, o concurso dos bons Espíritos pode ser mais difícil, permitindo a manifestação de irmãos obsessores, que se utilizam desta faculdade para atingir o visado. Além disso, os médiuns sentem de forma mais clara (dependendo do seu tipo de mediunidade) a influência dos Espíritos em geral, e dos obsessores em particular, podendo causar-lhe maior transtorno, atribuível ao processo mediúnico.
Ainda que a presença da mediunidade possa tornar o fenómeno obsessivo mais palpável, devemos esclarecer de forma inequívoca que a mesma não é causa da obsessão, podendo apenas estabelecer-se um princípio de coocorrência. O mesmo artigo esclarece que “Não foram os médiuns que criaram os Espíritos, já que estes sempre existiram e em todas as épocas têm exercido sua influência, salutar ou perniciosa, sobre os homens (…) Para eles a faculdade mediúnica nada mais é do que um meio de se manifestarem (…) na ausência de tal faculdade, eles o fazem de mil outras maneiras”.
A verdade é que a obsessão é um transtorno espiritual que nos afeta a todos, médiuns ostensivos ou dotadas apenas de sensibilidade mediúnica intuitiva.
No entanto, o papel da mediunidade na recuperação da obsessão também não deve ser descurado. O facto de tornar o processo obsessivo mais evidente, também permite a sua mais rápida identificação e atuação. Reconhecer a problemática é parte da cura. Os Centros Espíritas são, nesse campo, espaços que permitem, por um lado, o esclarecimento e o conhecimento do que é a mediunidade, o que é a obsessão e quais os meios para combatê-la e, por outro, permitem a educação e prática mediúnica equilibrada.
Devemos ainda compreender quão importante é a mediunidade no desenvolvimento dos Homens. A mediunidade é o mecanismo que temos para comunicar com o mundo dos Espíritos, renovando a consciência da existência de uma vida futura. A consciência dessa vida futura carrega, em si mesma, um conjunto de implicações morais que temos de verter para a nossa vivência na Terra. Durante muito tempo, a habilidade de consultar os Espíritos era entendida de forma de encontrar respostas a problemas mundanos. Desde a Antiguidade que vemos o papel que os xamãs, os curadores, as pitonisas ou os oráculos tiveram no desenho do futuro das tribos, das curas que eram operadas, e do parecer a decisões que implicavam reinos e conquistas. Mas só com Kardec, com o advento da ciência, é que pudemos verificar na mediunidade como um meio para responder a questões tão importantes como quem somos, de onde viemos e para onde vamos, tendo uma forma de estudar a origem e o destino de todos os seres da criação.
Assim, a mediunidade é veículo de aprendizagem, por aquilo que nos permite questionar e saber – como refere o primeiro artigo referenciado – mas também de crescimento e desenvolvimento pessoal, pela possibilidade de auxílio espiritual àqueles que sofrem a influência espiritual e àqueles que a exercem. “Em resumo, o perigo não está propriamente no Espiritismo, visto que ele pode, ao contrário, servir de controlo, preservando-nos daquilo a que somos arrastados, mau grado nosso; o perigo está na propensão de certos médiuns que, muito levianamente, se julgam instrumentos exclusivos dos Espíritos superiores, e na espécie de fascinação que não os deixa compreender as tolices de que são intérpretes.”
O Homem atravessa, neste preciso momento, um período conturbado, em que observamos a necessidade de transformação e renovação social para nos integrarmos na proposta moral de um mundo de regeneração. A mediunidade permitirá agir para impulsionar a procura do conhecimento e o esclarecimento necessários a essa mudança.
As Casas Espíritas têm um papel fundamental na divulgação do Espiritismo, que podemos classificar em várias dimensões:
Receber e auxiliar as pessoas, que chegam à casa através do atendimento fraterno;
Direcioná-las para a palestra pública e passe magnético;
Encaminhá-las para os estudos da casa. O conhecimento que o Espiritismo traz ao mundo é a chave para a nossa renovação moral, a necessidade de reeducarmos os nossos pensamentos e sentimentos no sentido do bem;
A Doutrina é o Consolador prometido por Jesus, ela consola porque esclarece de forma racional, de onde vimos, o que estamos aqui a fazer e para onde vamos;
Inserir as pessoas logo que possível, nos trabalhos da casa de assistência social e outros que tenham condições de fazer; não esquecer que a caridade é a única senha que temos para entrar no reino dos céus.
A Casa Espírita pode, assim, facilitar o processo necessário à cura da obsessão, que à semelhança de previsível epidemia, vêm-se multiplicando, nos casos de psicopatologia obsessiva, com volumosos prejuízos morais para a sociedade.
Os tratamentos que a Casa Espírita proporciona são: a oração, o passe, a água fluidificada e a terapia de desobsessão.
O Espírito Manoel Philomeno de Miranda, pela psicografia de Divaldo Franco, trata, em diversas obras, do tema da obsessão. Adilton Pugliese reúne no livro A Obsessão: Instalação e Cura muitas contribuições para uma maior compreensão do assunto. Apresentam-se alguns desses esclarecimentos.
Pela oração “desgastam-se as construções mentais negativas, favorecendo a mente com ideias salutares que fomentam paisagens de luz e paz, nas quais o homem haure renovação e coragem, encontrando entusiasmo e alegria para impregnar-se de equilíbrio e forças, já que sintoniza com as Esferas Superiores da Vida”.
Pelo Passe “o revigoramento orgânico, pelo processo da transmissão fluidoterápica de natureza espiritual ou magnética, consegue no metabolismo do obsidiado o mesmo resultado que o organismo físico logra, quando debilitado recebe a dosagem do plasma ou da simples transfusão de sangue”.
“A água é indicada para catalisar energias de vária ordem, a fluidificação ou magnetização da mesma é de relevante resultado, quando realizada pelo obsidiado, orando, ou por seus companheiros de socorro, pois que dessa forma, ao ser ingerida, o organismo absorve as quintessências que vão atuar no perispírito à semelhança de medicamento homeopático, estimulando os núcleos vitais (…).”
A desobsessão compreende, basicamente, duas grandes atividades: Atendimento aos encarnados e Atendimento aos desencarnados.
O tratamento para os encarnados inicia-se com o atendimento fraterno, onde as suas enfermidades espirituais serão diagnosticadas enquanto lhe são prescritas as orientações e terapias de que se deve utilizar para o processo da desobsessão.
O passe magnético é de valor incomensurável como terapia desobsessiva pela transmissão de bioenergia. A reunião de exposição doutrinária é parte fundamental do tratamento e corresponde à psicoterapia de grupo. “Quando uma pessoa entra num Centro Espírita que tem uma psicosfera adequada, já está protegida dos seus desafetos”, pois o próprio ambiente a defende, ensejando aos Espíritos iniciar ou dar continuidade ao tratamento que estão fazendo, podendo, inclusive, realizarem cirurgias perispirituais, visando colocar um ponto final naquelas ligações fluídicas, que são as âncoras que dão margem às obsessões. Isto torna-se possível porque o encarnado, ao se interessar e prestar atenção na palestra, desliga-se mentalmente de seus hóspedes psíquicos, sem dar-se conta das maravilhas que o favorecem em termos de renovação mental, emocional e até física.
Para o Atendimento a desencarnados o Centro Espírita dispõe de reuniões mediúnicas, que são “reuniões especializadas, em que os médiuns psicofónicos se colocam em disponibilidade para essa tarefa terapêutica” e os doutrinadores, agindo como terapeutas espirituais, esclarecem, consolam, aliviam e aconselham os Espíritos em sofrimento. Essa equipa, para atender compromissos na desobsessão, deve ter experiência e caracterizar-se por uma perfeita harmonia de pensamentos e de sentimentos. Deve, cada um dos seus membros, compreender a sua função e a dos demais e conhecer os aspetos técnicos dos atendimentos que na reunião se processam, os quais deverão ser levados a efeito em reuniões regulares, privativas e realizados em ambientes harmonizados e favorecedores do recolhimento.
O principal detalhe é a programação dos atendimentos, que deve ser conduzida pelos Espíritos coordenadores da reunião, por serem eles mais capazes do que os encarnados para estabelecer as prioridades, em função da Lei do mérito e das possibilidades espirituais da equipa encarnada, que somente eles têm condições precisas de avaliar.
“Sempre houve, na Terra, obsidiados e obsessores, assim como atendimento, socorro e terapias”. Antes do advento do Espiritismo esse trabalho era realizado no Mundo Espiritual com os médiuns encarnados, atuando em estado de desdobramento pelo sono. Com o advento do Espiritismo, as reuniões mediúnicas de caráter terapêutico passaram a ser realizadas também no plano físico, popularizando-se a psicofonia, por ser o trabalho dos médiuns falantes mais adequado para o tratamento dos desencarnados, em virtude de promover, simultaneamente, a doação energética e o diálogo esclarecedor.
Não devemos esquecer que na origem destes processos obsessivos temos como fator preponderante a lei de causa e efeito. Nas patologias de largo porte são inevitáveis as ocorrências dessa lei, que remontam às experiências malogradas em reencarnações transatas, que aturdem os sentimentos, desarticulam a razão, levando aqueles que lhes experimentam as injunções a estados de alucinação e mesmo ao suicídio.
Quando um Espírito sofredor ou endurecido incorpora num médium adestrado numa reunião mediúnica séria, dá-se um choque fluídico, que vem a ser a terapia fundamental, processando-se pela interpenetração entre os perispíritos do médium e do Espírito e caracterizando-se por trocas energéticas entre ambos: – “A energia doentia do comunicante sendo absorvida pelo médium, que a elimina enquanto doa energia saudável ao enfermo.” Simultaneamente o poder magnético do médium impede que o Espírito desvairado fuja do diálogo com o terapeuta-doutrinador que, ato contínuo, se inicia.
Pela terapia de desobsessão, mediante a elucidação do Espírito perseguidor através dos Espíritos Superiores ”e da técnica iluminativa dos doutrinadores junto àqueles que sofrem, abrem-se as comportas do entendimento, facultando-lhes compreender que todo o perseguidor é um perseguido em si mesmo e que toda a vítima traz consigo os processos auto-regenerativos impostos pela Lei”. Esse diálogo, vai complementar o choque fluídico, levando o Espírito à reflexão, e despertando-o para uma realidade nova, felicitadora.
Nos casos graves de subjugação, esta terapia deve ser complementada pelo tratamento orgânico do corpo, através de acompanhamento médico especializado.
Em súmula, a psicoterapia desobsessiva exige cuidados especiais e o concurso somente de pessoas credenciadas pela conduta espiritual e pelo conhecimento do Espiritismo.
Mas o papel do Espiritismo não se encerra na Casa Espírita. A proposta espírita não se encerra nos recursos que nos oferecem as Casas Espíritas. Aliás, nenhuma destas terapias terá sucesso a longo prazo, caso não exista uma mudança cognitiva, afetiva e comportamental. Tal como dizia o Mestre, após operar as suas curas “Vai e não tornes a pecar”. Esta proposta de Jesus implicava a reforma íntima.
A influência espiritual perniciosa de que somos alvo por parte dos nossos irmãos, que ainda nos tentam prejudicar pela sua própria ignorância e propensão ao mal, dá-se pela sintonia e afinidade de pensamentos e intenções. Isto quer dizer que os processos obsessivos conseguem encontrar campo, porque nós somos portadores de falhas morais que facilitam esta influência.
Assim, a cura passa precisamente por tentar contornar essa falha moral. É indispensável a mudança de comportamento do enfermo, a sua adesão a novos valores da vida, com natural alteração de atividades orais e mentais, para que recrie o campo vibratório em que estagia com novas construções de energia saudável, retificando as que se encontravam danificadas. É indispensável a inalienável, a valorosa colaboração do próprio obsidiado, no que diz respeito à transformação íntima, de que se fazem testemunha os seus perseguidores desencarnados, que resolvem abandoná-los. Os artigos em estudo mostram exatamente isso, ao referirem que “pode o homem livrar-se sempre do jugo dos Espíritos imperfeitos, porque, em virtude de seu livre-arbítrio, tem a escolha entre o bem e o mal” sendo “necessária uma força moral capaz de vencer a resistência”.
Não podemos ainda esquecer a recomendação do Cristo, que nos ensina que “Fora da Caridade não há Salvação”. A reforma íntima deve ser acompanhada do trabalho do bem, após o restabelecimento das condições físicas, mentais e espirituais, que por vezes se veem muito agravadas nas formas mais complexas de obsessão.
A possibilidade de se dedicar à prática do bem e da caridade é o caminho que mostra a transformação íntima e a consonância com a Lei Divina. Isto permite a que ambas as partes se libertem das amarradas do passado, seguindo o seu caminho em busca da felicidade.
Além do mais, “Espíritas, amai-vos; e instruí-vos!” A par do amor que deve existir na nossa relação com os outros, jamais o estudo deverá ser desprezado. Diz-nos o artigo sobre os possessos de Morzine “que o estudo da ciência espírita nos ensina a causa dos fenômenos devidos às influências ocultas do mundo invisível e nos explica o que, sem isto, nos parecerá inexplicável”. Regressamos aqui à vivência plena na Casa Espírita que permite o estudo sistematizado e discutido dos ensinamentos evangélicos, da moral cristã e da prática mediúnica.
O Espiritismo é o mais eficiente tratado de que dispõe o homem para a erradicação total da obsessão, já que dá ensejo uma vida ética, em consonância com os preceitos evangélicos. Experimentar o Espiritismo passa por compreender e reconhecer o papel da mediunidade como forma de conhecer o mundo e o homem na sua real natureza, mas pode igualmente mostrar o desajuste moral de que somos portadores, evidenciando os processos de influenciação negativa – obsessão – a que estamos sujeitos.
A recuperação e a cura obsessiva são promovidas pelo conhecimento, educação e transformação moral, colocadas ao serviço do bem, mostrando que a renovação social se inicia dentro de cada um de nós.