CONGRESSO | Perguntas Colocadas | Respostas
Mesa 1 – Lendas e crenças populares – Hugo Guinote (PL – ASE Cascais), Paulo Mourinha (Lisboa) e Sónia Constantino (AEB CE – Oeiras).
Como é que se podem aproveitar seres da natureza para tratamentos na Casa Espírita?
Resposta – A resposta a essa pergunta ainda não é possível ser dada de momento com solidez doutrinária.
O que sabemos com certeza é que existem espíritos da natureza de diferentes tipos, afins com o seu elemento natural, que provocam fenómenos físicos (Cf. Allan Kardec, “Introdução”, Revista Espírita, janeiro 1858, “Terceira Ordem – Espíritos Imperfeitos, Oitava classe – Espíritos Levianos”, fevereiro 1858, “As tempestades – Papel do Espíritos nos fenómenos naturais (Sociedade, 22 de julho de 1859)”, setembro 1859).
Foi ainda validado por Kardec que estes espíritos da natureza auxiliam Espíritos superiores na produção de fenómenos naturais e na manutenção desse equilíbrio (Cf. Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Cap. IX, “Ação dos Espíritos nos fenómenos da Natureza”).
Sabemos também que estes espíritos da natureza são criaturas sub-humanóídes, estagiando para evoluírem para seres humanos, apresentando um raciocínio e uma consciência ainda em desenvolvimento. Afeiçoam-se a Espíritos (como nós), deixando-se influenciar passivamente em função da sua ingenuidade (Cf. Francisco Cândido Xavier (André Luiz), Libertação, Cap. IV).
Especificamente quanto à sua utilização em tratamentos na Casa Espírita, esse é assunto ainda em fase de pesquisa, que deve ser sempre orientada pela equipa espiritual de cada casa e não apenas efetuada por iniciativa dos reencarnados.
2ª Mesa de debate – Limitações físicas e mentais – Francisco Reis (Caldas da Rainha), Jorge Gomes (ADEP) e Leonor Leal (ACE Alcobaça).
Pergunta – O que acontece ao nosso subconsciente e inconsciente quando desencarnamos? Volta ao consciente ou mantém-se obscuro de acordo com o nível de adiantamento espiritual? Onde podemos estudar melhor estes assuntos?
Resposta – Comecemos pela sua última pergunta. Pode estudar melhor este assunto em bibliografia diversa, por exemplo, na “Revista Espírita” de abril de 1859, onde existe um artigo com o título “Quadro da Vida Espírita”:
“(…) a morte é sempre seguida por um instante de perturbação, que pode ser de curta duração. Nesse estado, suas ideias são sempre vagas e confusas; de alguma sorte a vida corporal se confunde com a vida espiritual e ele ainda não as pode separar no seu pensamento.
Dissipada a primeira impressão, as ideias pouco a pouco tornam-se claras e, com elas, a lembrança do passado, que não volta senão gradualmente à memória, porquanto jamais essa memória irrompe bruscamente. Apenas quando ele se encontra completamente desmaterializado é que o passado se desdobra à sua frente, como algo impreciso, saindo de um nevoeiro. Somente então ele se recorda de todos os atos de sua última existência, seguidos dos atos das existências anteriores e de suas diversas passagens pelo mundo dos Espíritos. Concebe-se, pois, que durante um certo tempo esse mundo lhe deva parecer novo, até que ele se tenha reconhecido completamente e a lembrança das sensações ali experimentadas lhe tenha voltado de maneira precisa. Mas a esta causa deve juntar-se uma outra, não menos preponderante.
O estado do Espírito, como Espírito, varia extraordinariamente, na razão do grau de sua elevação e pureza. À medida que se eleva e se depura, as suas perceções e sensações tornam-se menos grosseiras, adquirindo mais primor, mais subtileza e mais delicadeza; vê, sente e compreende coisas que não podia ver, nem sentir, nem compreender numa condição inferior. Ora, cada existência corporal, sendo para ele uma oportunidade de progresso, condu-lo a um novo meio, porque se encontra, caso haja progredido, entre Espíritos de outra ordem, cujas ideias, pensamentos e hábitos são diferentes. Acrescente-se que tal depuração lhe permite penetrar, sempre como Espírito, em mundos inacessíveis aos Espíritos inferiores, como entre nós os salões da alta sociedade são interditos às pessoas mal-educadas.
Quanto menos esclarecido, tanto mais limitado é o seu horizonte; à medida que se eleva e se depura, esse horizonte se amplia e, com ele, o círculo de suas ideias e perceções. A seguinte comparação nos permite compreendê-lo. Suponhamos um camponês bruto e ignorante, vindo a Paris pela primeira vez. Conhecerá e compreenderá a Paris do mundo sábio e elegante? Não, porque frequentará apenas as pessoas da sua classe e os bairros que elas habitam. Mas se, no intervalo de uma segunda viagem, esse camponês se desenvolveu, havendo adquirido instrução e boas maneiras, outros serão os seus hábitos e as suas relações. Verá, então, um mundo novo para ele, que em nada se assemelhará à Paris de outrora. O mesmo acontece com os Espíritos; nem todos, porém, experimentam esse mesmo grau de incerteza. À medida que progridem, as suas ideias se desenvolvem e a memória se aperfeiçoa: familiarizam-se antecipadamente com a sua nova situação; o seu retorno entre os outros Espíritos nada mais tem que os surpreenda; encontram-se no seu meio normal e, passado o primeiro momento de perturbação, reconhecem-se quase imediatamente.”
Ideia semelhante surge na “Revista Espírita” de outubro de 1860 no artigo com o título “O despertar do Espírito”. Além disso, fonte ainda mais sólida está localizada em “O Livro dos Espíritos”, que apresenta a mesma ideia talvez de uma forma mais percetível:
“305. A lembrança da existência corporal apresenta-se ao Espírito de maneira completa e inesperada após a morte?
– Não. Manifesta-se pouco a pouco, como surgindo da névoa, à medida que nela vai fixando a sua atenção.
- O Espírito lembra-se detalhadamente de todos os acontecimentos da sua vida, abrangendo esse conjunto num relance retrospetivo?
– Lembra-se das coisas segundo as consequências que têm sobre a sua situação como Espírito, mas compreenderás que há circunstâncias da sua vida às quais não atribui nenhuma importância e de que nem mesmo procura recordar-se.
306-a. Poderia lembrar-se deles, se o quisesse?
– Pode lembrar-se dos detalhes e dos incidentes mais minuciosos, seja de acontecimentos, seja mesmo dos seus pensamentos. Mas só o faz quando é útil.
306-b. Pressente a finalidade da vida terrena em relação à vida futura?
– Seguramente que a vê e compreende muito melhor do que quando vivia no corpo. Compreende a necessidade de evoluir para chegar ao infinito e sabe que em cada existência se livra de algumas imperfeições.
- Como se desenrola a vida passada na memória do Espírito? Por um esforço da imaginação ou como um quadro diante de si?
– De ambas as formas. Todos os atos que tenha interesse recordar são vistos como se estivessem presentes. Os outros são como pensamentos vagos ou completamente esquecidos. Quanto mais desmaterializado estiver o Espírito, menos importância liga às coisas materiais. É frequente fazer-se a evocação de um Espírito, que acaba de deixar a Terra, e acontece que já nem se lembra dos nomes das pessoas que amava, nem de muitos detalhes que te parecem importantes. Pouco se importa com isso e tudo cai no esquecimento. Aquilo de que se lembra muito nitidamente são os factos principais que o ajudam a progredir.
- O Espírito lembra-se de todas as existências que precederam a última que acabou de deixar?
– Todo o passado se desenrola diante dele, como as etapas percorridas pelo viajante. Mas, como já dissemos, não se lembra de um modo absoluto de todas as suas ações passadas, recordando-as apenas à medida da influência que têm sobre o seu estado presente. Quanto às primeiras existências, as que podem considerar-se como a infância do Espírito, perdem-se no vazio e desaparecem na noite do esquecimento.”
Desta forma, julgamos que o que chamamos subconsciente e inconsciente (memórias de vidas passadas, pormenores desta última existência, causas anteriores para eventuais fobias, etc.) serão recordadas pelo Espírito ao desencarnar, aos poucos, como um nevoeiro que vai levantando muito lentamente.
Ainda assim, reportando-nos às reuniões mediúnicas de auxílio a quem parte distraído da vida material, com escassa bagagem interior de amor e sabedoria, é certo que se manifesta exatamente como a mesma pessoa que era, só que sem o corpo material. As mesmas tendências, as mesmas ideias dominantes, etc., definem-lhe a personalidade num processo de perfeita continuidade entre o que era no plano material e agora no plano espiritual.
A atividade mental consciente é a oficina de trabalho a partir da qual acumulamos em camadas mais profundas do psiquismo o resultado experimental da nossa própria evolução multimilenar. Usar essa nobre oficina para um melhor autoconhecimento e auto-iluminação espiritual é o que a vida nos pede na bolsa de estudo que é esta passagem terrena.
Pergunta – Evocamos espíritos sem nos apercebermos?
Resposta – Depende do significado que atribuir ao verbo evocar. Se não lhe associar a intenção de fazer presente um Espírito, neste caso não o evoca, ainda que esteja inconscientemente a propiciar a sua presença.
Por outro lado, se tiver a intenção de apelar à presença de determinado Espírito, neste caso estará mesmo a evocar a entidade espiritual em causa, situação esta à margem da sua pergunta, mas que alinhamos aqui apenas para que o significado da palavra fique esclarecido. Ainda assim, deve ser feita uma ressalva. Os pensamentos e sentimentos emitidos pela mente de cada um possuem características próprias que se vão somar a outros de idêntico teor, fortalecendo-se reciprocamente. Nesse sentido, a natureza dos pensamentos que temos a dada altura no quotidiano dir-nos-ão que tipo de Espíritos nos estarão a acompanhar (ver por favor em “O Livro dos Espíritos” a Escala espírita).
Por isso, através dos pensamentos atraímos Espíritos sem nos apercebermos: se eu for alcoviteiro é natural que os Espíritos que me rodeiam sejam também alcoviteiros, porque sentem afinidade comigo; se, pelo contrário, tiver uma preocupação genuína e verdadeira na ajuda ao próximo, será natural que os Espíritos que me rodeiam tenham esses mesmos gostos – é uma questão de afinidade.
Por outro lado, e ainda assim, para nos referirmos a “evocação” em sentido estrito, deve entender-se neste caso a intenção de fazer presente, comunicando-se ou não, determinada entidade espiritual.
Talvez seja de pensar que o mais importante nisto tudo seja, a exemplo do que Jesus de Nazaré ensinou, fazer por, no dia-a-dia, “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”, já que se fizermos a nossa ínfima parte na seara do eterno bem, Deus fará todo o resto.
3ª Mesa de debate – Obsessões e subjugações – Alexandra Gomes (AE São Brás de Alportel), Cristina Mota (CEPC – Lisboa), Paulo Costeira Silva (ASCEV – Viseu).
Pergunta – Considera como sendo “vítima” de obsessão ou de subjugação o espírita que divulga a Doutrina, que apregoa os seus princípios e Leis Divinas mas que apenas tem “sede” das luzes da ribalta e não coloca em prática aquilo que a Doutrina nos ensina? Justifique.
Resposta – Tal como foi referido na análise e reflexão sobre os dois artigos da Revista Espírita, a obsessão constitui a influência espiritual de um Espírito mau ou imperfeito, que pode ter diferentes graus de gravidade e consequências para o Espírito obsidiado.
A vitimização, num contexto obsessivo, é mera classificação para o Espírito que sofre a influência espiritual perniciosa. Declaradamente, a influência espiritual é um processo pelo qual os Espíritos se influenciam mutuamente e que depende do processo de sintonia e afinidade. Assim, mediante as nossas imperfeições morais, os nossos pensamentos, desejos, paixões, etc., estaremos em sintonia com aqueles que se nos assemelham. Se formos simpáticos aos Espíritos inferiores, pois será com estes que estabeleceremos sintonia e dos quais sofreremos a influência.
Qualquer cidadão que apregoa os princípios da Doutrina Espírita e das Leis Divinas, apenas com o intuito de se evidenciar, sem colocar esses princípios em prática, revela que é ainda portador das grandes chagas da Humanidade, que são o egoísmo e o orgulho.
Essas imperfeições, por si mesmas, justificam esse comportamento, mas a origem dos processos obsessivos está, precisamente, nas imperfeições morais que possui e que darão acesso aos Espíritos inferiores para mais facilmente o influenciarem, estimulando ainda mais a vaidade e a exaltação do ego.
Assim, aquilo que pode ter começado pelas suas más inclinações, pelas suas imperfeições, pode rapidamente evoluir para um estado de obsessão por fascinação.
Para concluir, refira-se que a resposta à questão n.º 459 de O Livros dos Espíritos, refere que a influência dos Espíritos é maior do que imaginamos, a tal ponto, que, de ordinário, são eles que nos dirigem, mostrando quão comum é a influência espiritual.
4ª Mesa de debate – Questões morais da Infância e da Parentalidade – Ana Duarte (AE Évora), Cândida Vieira (CELE – Olhão) e Manuela Vieira (CCE Funchal).
Pergunta – “O que fazer se um dos pais tem tendência para dar maus exemplos aos filhos, mas não está aberto à mudança? Sendo que o Espiritismo ensina que o casamento é uma oportunidade de resolver conflitos e o divórcio uma oportunidade perdida, como garantir que os filhos não crescem com a má influência de um dos pais? Como irmão, o que posso fazer?”
Resposta – Enquanto irmão pode agir de diferentes maneiras.
Converse com as partes envolvidas: tente ter uma conversa franca e amigável com os pais. Explique como o comportamento está afetando negativamente as crianças e tente encontrar uma solução em conjunto.
Fale com as crianças: explique-lhes a diferença entre comportamento aceitável e inaceitável. Ajude-os a definir regras claras que devem passar a ser seguidas, para felicidade de todos.
Procure ser um modelo a seguir: se as palavras influenciam, as ações convencem.
Promova a autoestima e a autoconfiança das crianças: para que elas possam resistir a influências negativas e tomar decisões positivas por sua própria conta.
Se a situação não melhorar, aconselhe a ajuda de um profissional, como um psicólogo ou terapeuta familiar, para ajudar os pais e/ou as crianças a lidarem com essa situação.
Escusado será dizer que o Centro Espírita poderá ser sempre uma mais-valia na ajuda a prestar a toda a família.
Pergunta – Porque é que a participação dos jovens nos Centros Espíritas é pouca? Que caminho está ao nosso alcance?
Resposta – A participação dos jovens nos Centros Espíritas é pouca, porque os Centros deixaram de dar resposta às necessidades dos jovens. Dizemos os Centros, não a Doutrina Espírita.
É necessário falarmos uma linguagem clara, criar empatia, momentos de escuta ativa, estudos e reflexões de interesse para as respetivas faixas etárias. É necessário que os Centros acolham os seus jovens com trabalho, para que estes se sintam pertença do espaço e preenchidos por conhecimento que vêm na medida das suas necessidades.
É necessário que os educadores estudem sobre educação, aprofundem os seus conhecimentos, deixem o papel de quem está para ensinar e sejam facilitadores empáticos deste processo de crescimento.
A Doutrina Espírita oferece valiosíssimas ferramentas. A Federação Espírita Portuguesa, para além de um programa orientador e mais de 50 livros para o efeito, promove tertúlias com jovens e também com educadores. Encontros quinzenais aos sábados, para Educadores, para troca de experiências, reflexões e desafios que nos levam para dentro de nós.
Contudo, a realidade não muda, se cada um de nós não se abrir à mudança.
7ª Mesa de debate – Problemas – Alexandra Fonseca (AECV – Águeda, Gláucia Lima (AME Lisboa/AME Portugal) e Inês Guinote (PL – ASE Cascais).
Pergunta: Alguns medicamentos, principalmente para a saúde mental, referem nos seus efeitos secundários, que podem levar ao suicídio. Se alguém comete o suicídio devido aos efeitos secundários do medicamento, qual é a sua responsabilidade a nível espiritual?
Resposta – Existem medicamentos que podem causar depressão como efeitos secundários, e acentuar ideação de morte pré – existente, com ideação suicida, entretanto, muitos medicamentos têm esse efeito secundário referido, não porque o efeito seja frequente, mas, para proteção da indústria farmacêutica.
Para tal, se a pessoa tem uma certa tendência para a depressão e história pessoal ou familiar de tentativa de suicídio, a vigilância desses utentes terá que ser redobrada, sobretudo em situações em que hajam outros fatores de risco, como doenças crónicas e em que haja necessidade da manutenção da terapêutica.
Exemplo:
– Utente idoso com cancro de pulmão e metástases disseminadas, em uso de glucorticóide com sintoma depressivo e ideação de morte. Tem indicação de instituição da terapêutica antidepressiva, manutenção do glucocorticoide (medicação que pode induzir depressão) e avaliação da evolução do estado mental pela especialidade – psiquiatria.
– Utente jovem em tratamento para tuberculose. A medicação pode induzir estados depressivos, mas, é imperioso tratar a tuberculose, logo mantém-se o tratamento para tuberculose e institui-se antidepressivo.
Vale ressaltar, que para a Lei dos homens, a responsabilidade pelos atos é diretamente relacionada com a nossa capacidade para o avaliar e o determinar, no pressuposto da (In)imputabilidade, assim também o será para as leis de Deus.
Gostaríamos ainda de acrescentar/lembrar que somos Espíritos que vestem temporariamente o corpo como uniforme de trabalho para o aprimoramento e não corpos que têm Espírito. Assim sendo, pode o corpo sofrer perturbações, como o instrumento pode sujar-se, rasgar-se, ou até deixar de funcionar, mas a fonte dos gostos, afinidades, desejos, sentimentos, vontade, inteligência, decisão e ação será sempre o Espírito.
Allan Kardec reflete que: “Se há inclinações viciosas evidentemente mais inerentes ao espírito, porque têm a ver mais com a moral do que com o físico; outras (como a cólera, a indolência, a sensualidade) antes parecem consequência do organismo, pelo que tendemos a considerar-nos menos responsáveis. Já está, porém, perfeitamente reconhecido que o organismo e respetiva atividade é modelada em correspondência às características individuais e atividade do espírito; pelo que esse desenvolvimento é antes efeito, não causa”. (Revista Espírita, Jornal de Estudos Psicológicos, julho de 1860 e abril de 1862)
Assim sendo, “A diversidade das emoções não pode ser compreendida, numa porção de casos, senão pela diversidade das qualidades do espírito. Tal é a razão pela qual uma pessoa sensível facilmente derrama lágrimas; não é a abundância das lágrimas que dá a sensibilidade ao espírito, mas a sensibilidade do espírito que provoca a abundante secreção de lágrimas. Seguindo esta ordem de ideias, compreende-se que um espírito irascível deve levar ao temperamento bilioso, de onde se segue que um homem não é colérico porque é bilioso, mas que é bilioso porque é colérico. Assim acontece com todas as outras disposições instintivas.”
“Ainda que casos haja em que o “moral do Espírito possa ser afetado em suas manifestações pelo estado patológico (orgânico), sem que sua natureza intrínseca seja modificada”, “escusar-se de suas más ações com a fraqueza da carne não é senão um subterfúgio para eximir-se da responsabilidade. A carne não é fraca senão porque o espírito é fraco” “A carne, que não tem nem pensamento nem vontade, jamais prevalece sobre o Espírito, que é o ser pensante e voluntarioso.” “A responsabilidade moral dos atos da vida, portanto, permanece íntegra” sendo proporcional “ao desenvolvimento intelectual do Espírito, (…) porque com a inteligência e o senso moral, nascem as noções do bem e do mal, do justo e do injusto.” (Allan Kardec, Revista Espírita, Jornal de Estudos Psicológicos, março de 1869)
“Se não é o corpo ou suas fragilidades o responsável pelos pensamentos, sentimentos e ações do espírito, temos ainda assim que a Justiça é Divina e não humana, isto porque o que conta é a motivação e intenção e não o ato que se concretiza ou é reconhecido. A Justiça humana é profundamente limitada porque superficial, imperfeita, sujeita a constante mutação. A Divina alcança a profundidade da essência do ser, “unicamente da alçada do tribunal da consciência”. (Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Cap. XI)
“Sendo infinita a justiça de Deus, o bem e o mal são rigorosamente considerados, não havendo (…) um só́ pensamento mau que não tenha consequências fatais, como não há (…) um só́ bom movimento da alma que se perca…”.
“Ademais a “expiação varia segundo a natureza e gravidade da falta, (…) e conforme as circunstancias, atenuantes ou agravantes, em que for cometida.” Pelo que “não há́ regra absoluta nem uniforme quanto à natureza e duração” da consequência. (Allan Kardec, O Céu e o Inferno ou Justiça Divina Segundo o Espiritismo, Parte I, Cap. VII, “O código penal da vida futura”).
Razão por que não é, de facto, possível ao homem avaliar a extensão da responsabilidade do seu semelhante em qualquer ato.
Pela Misericórdia Divina é o Espirito “o árbitro da própria sorte” determinando o “termo de sofrimentos” até porque ”o mal moral, sendo por si mesmo causa de sofrimento, fará este durar enquanto subsistir aquele”. E ainda aí “quaisquer que sejam a inferioridade e perversidade dos Espíritos, Deus jamais os abandona. Todos têm seu anjo de guarda (guia) que por eles vela, na persuasão de suscitar-lhes os bons pensamentos (…) ocultamente e de modo a não haver pressão, pois que o Espirito deve progredir por impulso da própria vontade”, respeitando seu livre-arbítrio, nunca por qualquer sujeição.” (Allan Kardec, O Céu e o Inferno ou Justiça Divina Segundo o Espiritismo, Parte I, Cap. VII, “O código penal da vida futura”)
“Assim o suicida é sempre punido (expiando o tempo que não aproveita encarnado); mas” em não havendo a intenção, mas apenas a exaltação dos ânimos com eventual influenciação em momento de perda da razão, tem sua “pena” aligeirada”. (Allan Kardec, O Céu e o Inferno ou Justiça Divina Segundo o Espiritismo, Parte II, Cap. VI)
Assim se conclui que não temos como avaliar o grau de responsabilidade/culpabilidade dos nossos irmãos de caminhada. Mais se entende que tal análise não traria nenhum valor. Pelo contrário, a proposta das leis divinas conforme Jesus ensinou e mais tarde os bons Espíritos vêm reiterar é a da Caridade: Benevolência para com todos, Indulgência para com as imperfeições alheias, Perdão das ofensas (sem limite nem exigências). (Ver O Livro dos Espíritos, Cap. XI)
Amemos portanto, sem limites, e oremos pelos nossos irmãos de caminhada, ainda mais quando sofredores, porque a prece é a nossa melhor forma de auxílio: refrigério para as suas dores morais e fonte de força e coragem para enfrentar e reconhecer as próprias falhas, acelerando a oportunidade de repará-las e de libertação da dor por aproximação ao Amor!
Acolhamos a Soberana Justiça e Bondade Divinas também em nós, perdoando-nos por quaisquer erros cometidos e procurando desde já fazer todo o bem ao nosso alcance na certeza de que “O Amor cobre a multidão dos pecados” (Pedro, 1:8)!